O gabinete de estudos económicos e financeiros do português BPI considera que Angola tem sido rápida a reagir à crise petrolífera, mas avisa que “o impacto negativo é inevitável”, nomeadamente nas receitas e no crescimento económico.
“A economia angolana encontra-se naturalmente a lidar com as consequências da queda dos preços do petróleo que se arrasta há cerca de um ano; o impacto negativo é inevitável, mas tem-se verificado um ajustamento rápido das políticas económicas ao novo contexto”, lê-se no documento enviado aos investidores.
Na análise económica de 22 páginas, os analistas do banco português escrevem que “ainda que os fundamentos macroeconómicos sejam mais sólidos relativamente à última crise, a recuperação lenta dos preços do petróleo apresenta-se como um dos principais riscos para a retoma económica”, o que leva o BPI a manter a previsão de expansão económica para 3,7%, apesar de haver o risco de o crescimento ser menor.
“A incerteza relativa às perspectivas de recuperação dos preços do petróleo no mercado internacional tem levado as diversas instituições a reverem em baixa as perspectivas para o crescimento económico; as autoridades oficiais reconheceram que o crescimento deverá desacelerar para 4,4% este ano, enquanto o Fundo Monetário Internacional estima que o crescimento se queda pelos 3,5% em 2015 e 2016”, escrevem os analistas, sublinhando que “o cenário do BPI apresenta-se também mais conservador que o oficial, apontando para um crescimento de 3,7% em 2015, mas o risco é ser eventualmente menor”.
Na análise às finanças públicas de Angola, o BPI nota que os preços baixos do petróleo “já se reflectiu numa deterioração da posição externa de 2014, que se deve prolongar em 2015”, e acrescenta que, “com base nos dados disponíveis até Julho, a quebra das receitas de exportação poderá ascender a 40% em 2015, enquanto a desvalorização da moeda vai encarecendo as importações e a reduzida diversificação económica continua a dificultar a substituição das importações.
Sobre a evolução orçamental, o panorama é ainda mais incerto, nomeadamente no que diz respeito ao saldo orçamental, apesar de ter havido um “corte significativo” no investimento público: “Os resultados do actual exercício orçamental estão dependentes de vários condicionalismos, destacando-se a rigidez da despesa corrente primária, sobretudo da rubrica ‘despesa com pessoal’, e da capacidade de obtenção de financiamento e execução da despesa de investimento; pelo que tudo somado, e atendendo à fraca execução orçamental em termos históricos, múltiplos cenários são possíveis para o saldo orçamental”, conclui o BPI.